Doença renal crónica no paciente felino

Os rins são verdadeiros super-heróis no corpo dos nossos amigos felinos, dado que desempenham funções vitais que vão muito  além do que muitos de nós imaginamos. Estas pequenas mas poderosas estruturas são responsáveis por manter o sangue dos gatos limpo e livre de substâncias indesejadas. Dia após dia, estes orgãos trabalham incansavelmente para filtrar os resíduos do metabolismo e produtos desnecessários, garantindo que apenas o que é bom permaneça no corpo.

A água é um recurso vital, e os rins dos gatos são mestres em geri-la, pois decidem quando é necessário reter ou eliminar a água, ajustando a concentração da urina de forma incrivelmente precisa. Isso significa que, independentemente do clima ou da quantidade de água que o gato beba, os seus rins estão sempre a ajustar o equilíbrio hídrico de forma a manter o felino hidratado.

Além disso, os rins têm um papel crucial na regulação da pressão arterial, pois produzem uma substância chamada renina que ajuda a manter a pressão sanguínea estável. Isso é essencial não apenas para o bem-estar geral, mas também para a saúde do coração e de outros órgãos.

Finalmente, mas não menos importante, os rins são produtores de urina, que ocorre a partir da concentração dos resíduos filtrados do sangue e o excesso de água, ou seja, esta é a maneira natural do corpo dos gatos livrarem-se do que já não precisam.

A Doença Renal Crônica (DRC) refere-se a uma condição na qual os rins do gato sofrem danos progressivos e irreversíveis ao longo do tempo. Esta é uma condição comum em gatos mais velhos e pode ter diferentes causas. Algumas das causas incluem doenças inflamatórias, degenerativo, hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas, obstrução do trato urinário e intoxicações.

Que danos ocorrem aos órgãos?

Existem múltiplas etiologias de DRC em gatos que frequentemente desencadeiam nefrite intersticial, que está associada a inflamação, fibrose e perda progressiva de nefrónios, o que desencadeia consequências metabólicas, endócrinas e cardiovasculares nos nossos pacientes felinos.

Inicialmente, o tecido de reserva funcional é consumido, o que gera alterações adaptativas nos nefrónios remanescentes para atingir uma taxa de filtração glomerular capaz de manter a homeostasia do gato. Ocorrem mecanismos que compensam o “mau funcionamento” das células afetadas, que é muito importante para a manutenção da função renal “aparentemente normal”. Gradualmente, ocorre a perda progressiva e irreversível da função renal e o aparecimento de alterações médicas secundárias à redução de filtração e excreção de substâncias tóxicas para o organismo, e consecutivamente alterações sanguíneas como a azotemia.
 

Quais são os sinais clínicos mais visíveis nos gatos com DRC?

•    Perda de peso
•    Letargia
•    Perda de apetite
•    Aumento da ingestão de água (polidipsia)
•    Aumento da micção (poliúria)
•    Vómitos
•    Halitose (mau hálito)
•    Desidratação

Como é realizado o diagnóstico da Doença Renal Crónica em gatos?

O diagnóstico do DRC é realizado por meio de: exame físico, análise sanguíneas, análise de urina, exames de diagnóstico por imagem e medição da pressão arterial. No entanto, nesta condição não é importante apenas realizar um bom diagnóstico da patologia, mas também avaliar em que estadio a mesma se encontra de forma a evitar o seu agravamento.
A dieta desempenha um papel crucial na gestão da doença renal crônica (DRC) em gatos. A escolha da dieta adequada pode ajudar a aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do gato. 

Eis algumas considerações gerais para a dieta dos animais com DRC:

Baixo Teor em Fósforo: Reduzir a ingestão de fósforo é uma prioridade, pois níveis elevados dos mesmos podem ser prejudiciais aos rins comprometidos. Muitas dietas terapêuticas adequadas a DRC são formuladas com baixo teor em fósforo.

Proteína Controlada: Historicamente, a restrição excessiva de proteínas era recomendada para gatos com DRC, mas atualmente existe uma abordagem mais equilibrada. Deve-se fornecer proteína de alta qualidade, mas em quantidades controladas para minimizar o stress nos rins

Suplementação de Ácidos Gordos Ômega-3: Ácidos gordos ômega-3, como os encontrados no óleo de peixe podem ter propriedades anti-inflamatórias e benéficas para gatos com DRC.

Controlo de Calorias: Manter um peso corporal saudável é importante para gatos com DRC. A obesidade pode agravar os sinais clínicos e piorar a condição renal.

Elevada Palatabilidade: Gatos com DRC podem apresentar apetite mais caprichoso, pelo que a oferta de uma dieta palatável é crucial. Existem alimentos concebidos específicamente para gatos com DRC, muitos dos quais são formulados para atrair gatos exigentes.

Monitorização contínua: A dieta pode precisar de ser ajustada ao longo do tempo com base na progressão da doença. Testes regulares de função renal ajudarão o veterinário a avaliar a eficácia da dieta e a fazer ajustes conforme as necessidades.

É fundamental discutir as opções de dieta com o médico veterinário do seu gato, que poderá recomendar alimentos específicos concebidos para gatos com DRC ou fornecer orientações sobre como ajustar a dieta doméstica. Lembre-se de que a abordagem nutricional pode variar com base nas necessidades individuais do gato e na fase da doença renal.

Qual é a taxa de sobrevivência de um gato com diagnóstico de doença renal crónica?

A sobrevivência dos pacientes felinos será determinada pela causa, estadio da doença, e pela precocidade na obtenção do diagnóstico e início do tratamento, podendo variar de meses a anos após o diagnóstico.
Os fatores de risco associados à sobrevivência de gatos com DRC são as concentrações séricas de creatinina, fósforo e SDMA, proteinúria, valor de hematócrito e a idade. No entanto, é importante compreender que estes exames nem sempre estão relacionados com a sintomatologia ou sobrevivência do animal com DRC. Em alguns gatos, a função renal permanece estável durante um período considerável, permitindo uma boa qualidade de vida durante esse mesmo período.